TIA NASTÁCIA, DE MONTEIRO LOBATO: ENTRE O PROTAGONISMO E O APAGAMENTO CULTURAL
- Posted
- Server
- SciELO Preprints
- DOI
- 10.1590/scielopreprints.8479
Em Histórias da Tia Nastácia (2018), a personagem do título é a contadora de histórias da tradição popular e folclórica brasileiras. Neste trabalho discute-se a desqualificação de tia Nastácia no processo de silenciamento de sua voz, uma representante coletiva dos negros e de sua cultura ancestral. Michel Foucault (2013), e Eni Orlandi (2007) apresentam os sentidos do silêncio trabalhando a forma de sua existência e sua significação, as quais se constroem em situações específicas, que definem o modo de significar, delineadas na cena enunciativa (Maingueneau, 2015, 2008). Monteiro Lobato concede a Tia Nastácia, em tese, a possibilidade de uma espécie de protagonismo como narradora de histórias tradicionais, mas, ao mesmo tempo, faz com que a voz da boneca de pano humanizada o anule, sendo o nome da personagem exemplar desse silenciamento. Para esta análise, propomos o estudo da Cena Enunciativa como elemento fundamental em uma análise discursiva, além de indicações de cunho lexical na caracterização das personagens, pois ao confrontar os significados de seus nomes, observa-se a construção de uma alegoria de discurso colonial sobre o Brasil e sua formação histórico-cultural, silenciadora de vozes outras, como a de Tia Nastácia.